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domingo, 7 de agosto de 2016

Locomotiva


O Trem já vem?
Louco mote locomove louco mote locomove
         e lá vem vem lá vem vem vem
Vai o monte vem o laço louco mouco louca leva
louco mote locomotiva vem leva
locomove louco motivo lá vem
louco mote que motiva vem além
me motiva te motiva
         locomotiva já vem vem vem vem vem vem (hein?)


Ei! Quem vai entrar também?

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Casinha de Celofane

Na casinha de celofane havia
Uma linha reta atravessando a sala
Numa porta chã há de terminá-la
E confortá-la por estar depois sozinha
E entreaberta, riria quase morta
E entreconversaria o que importa
O que importa...

Sumiria, qual trilha no final do dia
Numa via nova que iria até a vala
Rume agora, logo hoje, siga a amá-la
Sua mágoa de trancar a si diria
Seja torta, se é certa e curvilínea
A sede corta o lábio, azucrine-a
Azucrine-a...

Na casinha de celofane ouvia...
(Azucrine-a...)

Castelo de Cartas

Você só pensa em sorrir - O dia inteiro
Enquanto eu tento pedir - Pão pro padeiro
É tanto pó por aí - Pelo meio e cheio
Que eu só penso em sair - E entrar no chuveiro

Castelo de cartas - Um dia vai cair
Segregadas, fartas - Duas almas perdidas
Unidas, querendo ser lidas - Suadas e calmas
Por mim e ti, eu vi (cair) - Castelo de cartas

Você só pensa em cantar - A noite inteira
Enquanto eu tento sonhar - Com cestas cheias
É tanto sol, pouco ar - Pelo meio e beiras
Que eu só penso em voltar - A ir à feiticeira

5 Sentidos

Os CriaDores                  
se inquietam
e do mais sutil éter celestial                 
outros quatro Sentidos
eles criam;
com cada Sentido criado,
um novo Sentido,
menos sutil,
eles criam.

Os 5 Sentidos
assim conjugados
formam a grande nave-mente que SENTE:
dentro dos céus, só o som;
por trás do vento, a dor e o som;
diante do fogo, a cor, a dor e o som;
sob as águas, o sabor, a cor, a dor e o som; e,
sobre a areia, o odor, o sabor, a cor, a dor e o som.                           
               
Mas... E o sexto Sentido?...  
É a nave mesma:
atravessa e assenta o inextinguível.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Um Bar Completo

Um bar pra ser completo tem que ter
bêbados na porta a fumar e a beber.
Todos parados; não poucos sentados
em bancos baixos, pra rua virados.
Mas um deles, de óculos escuros,
não se senta, pára em pé, olha mudo.

Cruza os braços, sua bicas, franze o cenho,
distribuindo cumprimentos secos.
Quando vai-se entrar no bar, esse cara
transforma a cara assim que se passa:
ele é o primeiro que se vira pra trás
e ri da sua cara, frente aos demais.


Um bar pra ser completo tem lá dentro,
de frente pra quem chegar correndo,
um senhor idoso, já desdentado,
usando uma mesa virada de lado.
Esse cara calejado passa a tarde inteira
bebendo devagar várias cervejas.

Tendo consigo mais alguns senhores,
um pouco mais novos, que bebem sem dores.
Um confrade de idade esboça uma ajuda,
mas o dinossauro sorri e recusa;
levanta e vai urinar de hora em hora,
e em quem esbarra indo, (ele) se escora.


O bar completo tem um dono zombeteiro
que pergunta pro cliente o seu nome verdadeiro,
mas mata o tempo todo inventando apelidos:
pelo apelido (do) bar, o botequeiro é conhecido.
O bar completo só pode completar-se mais
se as piadas ditas forem (as) tradicionais.

No bar completo, vê-se clientes presentes,
De repente, de vez em quando, contentes.
Sempre atentos, o atendente e o dono do bar
Sabem exatamente o que você beberá:
Se pede uma bebida diferente da habitual,
Perguntam se a outra marca deu ardência anal.

terça-feira, 1 de maio de 2012

CHUVA NA CERCA

Cerca, Campina, Pasto, Fonte d'água, Canavial...
Rua, Casebre, Mato, Barriga d’água, Colher de Sal...
Casa, Pessoal, Varanda, Rede, Cachaça, Pão...
Toca, Animal, Fome, Sede, Privação...

Enquanto o verão brota do chão
A sede assassina o sonho de se ver
A cerca em ruína sem ter o que deter
E a verde campina para todos florescer

Eu inda sonho, que inda hoje...
Deve chover!

Cerca, Casinha, Pato, Cigarro de Paia, Matagal                   
Rua, Buraco, Mato, Barraco de Paia, Colher de Pau
Casa, Vegetal, Lavanda, Beijo, Bala, Pão
Toca, Mineral, Podre, Puro, Viração
É hoje à noite, depois que o galo dorme!
É hoje à noite, depois que a lua sobe!
É hoje à noite, depois de tanta dor!
É hoje à noite, vou ver o meu amor!

Pra lhe dizer, que inda hoje...
Deve chover!

Chuva na cerca!

Será que é tão bom assim?
Será que é ruim então?
Tem gente que acha que sim
(Mas) Tem gente que acha que não
         Quem diria, um dia enfim
         A gente seria irmão!
Chuva na cerca!

domingo, 11 de março de 2012

Tarô Roto

O tarô rôto
há hora
tara o tato
arrota rota torta
torra rato à toa
à horta tártara ata a aorta

sábado, 3 de março de 2012

Superista


Você, seu rei, foi quem me fez assim 
Superista do início ao fim


Desde os velhos tempos Uma coisa incomodava
O povo sonolento Que uma hora acordava
E via que essa coisa Virava pressentimento
Um dia toda rosa Voaria contra o vento

E toda semente Dentro da encruzilhada
Seria já somente Arvoredo para a estrada
O povo mais antigo Sabia ser decente
Lutava por abrigo E vivia pela mente

Brilhava pela Grécia A raiz filosofia
Onda que começa A dar no deus azia
É coisa mais antiga A pirâmide avisava
Socializa Quase nada aristocrata

Porém o terapeuta Se lembrava do hindu
De Creta até Ceuta Filósofo ia nu
Até que uma pista Nascia no Nepal
Ao ateísta Toda rosa é social


Você, seu rei, foi quem me fez assim 
Superista do início ao fim



De repente todo mundo Se tocou da ilusão
Deus é bem no fundo Dono do seu batalhão
E se o seu machado Fosse assim tão rotundo
Podia ter lutado Ao lado a cada segundo

Então por toda a terra Todo povo quis messias
O povo nunca erra Ele sempre aparecia
A cada trezentos Anos ele surge e gera
Novos pensamentos Para além da sua era

E todo sacerdote Avisava todo dia
Se o santo é forte Vamos ler a profecia
Aquela que dizia Que havia uma verdade
A teocracia Venera a voracidade

E todo governante Logo se apoderou
Do poder gigante Que na fé se entranhou
O povo então dizia Não a tão brilhante frade
Ao anarquista Sacia a sociedade


Você, seu rei, foi quem me fez assim 
Superista do início ao fim


Mas ao rei divino Nada mais já lhe acata
Exceto um menino Que iludia o teocrata
Ele foi até a mata E matou seu próprio filho
Topada na bravata Não mancha o ladrilho

E foi nessa campina Que sorriu para o monarca
Uma bela menina Que entrava na menarca
Logo o velho rei Entregou-se à sua sina
Depois do que passei Abdico a ti, rainha

O reino se entregava À praga doentia
Por onde se espalhava Todo mundo adoecia
Até quem não sumia Quando procurava a taça
O imperialista Realiza só desgraça

Porém o velho mago Com o seu chapéu de palha
Bradava, eu não largo A chefia da batalha
Aceito que desista Só quem nunca vai à praça
O paganista Avaliza toda a graça


Você, seu rei, foi quem me fez assim 
Superista do início ao fim

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

MATAR OU MORRER

De volta à era do matar ou morrer
A gente veio libertar você
A terra ardia - Na noite fria
De volta à era do matar ou morrer

De volta à era da missão cumprida
A gente veio salvar sua vida
A guerra vara - A noite clara
De volta à era da missão cumprida

Dez mil cadáveres sobre o chão
Seu pai, seu filho e seu irmão
Sem mão, sem perna - Na noite eterna
Dez mil cadáveres sobre o chão

Quem vai morrer, quem vai matar
Quem é que pode optar
Quem te socorre - Ou mata ou morre
Quem vai morrer, quem vai matar

RAcIoCinAIS

Caos: flua! Rock’n’Roll
casa na roça flutua
feel blue in my soul


primeira manhã maloca
pintor de paredes palavras
passa um mês a madrugar


Será tudo isso sossego?
Será toda essa paz, razão?
Será só nosso esse apego ao sorriso que jaz, sim ou não?


Eu só vou dormir depois de te ver sorrir!
Como um abraço, um beijo ou um aperto de mão,
nada na vida vi pior do que sorrir a quem não é meu irmão...


Rumos: Sinais, Remos, Trapos Atrás de Tralhas
Remates: Sais, Raiz, Cais que Até Traz Paz
No Mais: Nada na Danada da Nadada


!Só dai dos ovos odiadòS!
!Só com soda lavai a vala dos moçòS!
!Será só a adiada, se dá duas saudàdes, a da ida aòs àreS!


Ê, tio, pia ira: ira que siría, per si, aegítoo; mã à rábia saúdi-t’ aíndia!
Só mal ia libá nóis: raeliemêmtu, nís ia afegá. ñ istão p’ aqui, stão?
Arme ni áar... gelia pa lésti... na bahr: einsinaiis la mismo!

RaiCais

geada manhã
s O l – no pó do rodapé
orvalho, mofo.



do CÉU venho
pro soLo vou
o   s O l   sou



sóis beijam luas
noites não têm fim
é o mesmo dia sempre



1 véu de sptz
2 flores em coito
nada bem    o afoito pólen



Eis teu verso, Primavera!
Ofuscas com teu olor terso
toda a dor que já não era!



Além-Totem, no Antro-Pomar...
Eis o Servo da Santa Selva: vai, retome seu Assento lá e...
Ai! Atai-os ao Vazio, ó Anzol Anil!



SER RÊS, SEM
SER SER, MAS,
IND'ASSIM, SER!



Lugar nenhum
aqui na quina da Vida há
além de Nada e Lá

REVOLUÇÃO VEGETAL

Eu vou cantar uma canção psicodélica
Que fala de nabos e de couves-flores
E que fala sobre pepinos multicores
E que foge de qualquer padrão de estética

Eu vou deixar de esquecer de não falar
Daquelas tais que caminham sobre as pedras
Meio animais, vegetais e cogumélicas
Cada quais no seu lugar

Sintetizado nos sais
Sol e solo, esponsais
Alimentado demais
Outra vez, vegetais

Se era o legume que saía pelo mundo
Viajando pela treva do umbigo
Ou a carne que dormia no estrume adjunto
Suspirando por abrigo

Nunca mais ninguém pôde perguntar
Se não era mais o mesmo tegumento
Volto atrás pra mostrar que talvez defecar
Seja mais que argumento

Sem mais dores, animais
Alimárias, nunca mais
Comedores, morram em paz
É a vez dos vegetais

É a Revolução Vegetal!

POR RUAS AMARGAS

Lá vai o homem bêbado
Com a sua pobre mulher
Levando escondido o segredo
De ser o que se é sem ter fé

Quantos suspiros em vão
Já tomou na cara, a mulher
Pelos transeuntes, cidadãos,
Temor que se compara à fé

E quanta vida a mais?
No mais, só a caminhar...
Tanta esquina, nenhum lar
Muita sina, pouca paz
não mais...

E vem chegando o fulano
O fedido, o faltante, o falado,
O falido, caindo, deitado,
Geme e ouve sua dona falando

Quem é que pode mais?
A cruz que rasga a treva
Ou a faca que sangra e traz
O susto de atacar depressa
sem reza
e em paz...

Mas o dia amanhece
E o beijo se esquece
De fechar os olhos doídos
Do pobre casal de mendigos

Que colam os lábios
E olham pros lados
Pra ver se alguém olha
Pra latinha de cola

Que eles tinham guardado
Pra hora que a tristeza
Batesse, e a sobremesa
Tivesse acabado

Quem poderá salvar
Alma tão indefesa?
Será melhor não se armar
Com o que a alma trará, com certeza?

Quando é impossível amar...
Há amargar...
?

MULHER MAGNÉTICA

Quando as nuvens já estão derretidas
De tantas chuvas chovidas
E os ventos se movem ao léu
Se afastam do chão e do céu

Você ainda tem que lembrar que tem alguém
Que te ama por nada, como só você quer ser amada

E por mais que você não aceite
Que o meu deleite seja real
Eu me deleito e te amo de um jeito
Que parece até não fazer mal

Mas que faz mal sim, pois você está longe de mim
Mas se você voltar, cada dor que pintar vai passar

Vai sim!
Mulher magnética!

Une Som n’Ânsia

Uma história, um poema!
Nada basta para mim,
que, de tanto atribuir emblemas,
tropeço na loucura,
busca das curas todas
do que é ruim.
Mas a dor continua,
vem, assim: crua, nua?
Nem me importo... Eu?
Choro, sandeu,
tento,
a tento,
ponho, proso proponho:
só um lamento, um sonho!
Nada mais queria eu
além de sonhar.
Mas sei que há uma todavia:
se sonho prosa com poesia,
nunca posso blá-blá-blá...
Pois, só lamento a tosca rima fina,
como tantas: daqui & dacolá;
e solto pena, claro, poema:


paro são, no suspiro canhestro
de um quarto à extrema e vejo,
mesmo em trevas,
devaneios proibidos
que, em brisas malocadas por anseios,
buscam a luz de um ganido
em rápidas viagens urbanas,
carregados de uma raiva
tão contida que, se eclodida,
explodiria edifícios tantos!,
e todo o céu de cor oblíqua:
assim minha amada diria,
pois, de cores, sei que era sabida...
e de amores!... ah, todos:
enquanto vivi
tão pouco delir
de mi vida
em mim,
em si,
lá no sol,
ou mesmo antes de tão sensível,
nunca havia sentido amor tão doce
como este que hoje, sentindo,
faz-me viver minha vida!


Condor, sigo a sina doída,
desígnio divino de ter vida
e não tino de comigo ser eu,
saída, aviso, só, desatino:
prefiro ser o eu
a que nunca me refiro
a amar o já saudoso choro finito,
grito esquecido pelo luar,
gemido que ergue
sob o mar sua terra
e dela liberta todas as dores,
ilusões de mentes que só sabem
que mentem e mais nada;
ou algo: sabem ou das luas
ou dos sóis, nunca das duas
luzes juntas,
sem eus, só nós.
Pois o céu escuro, noite, ao enluar,
mede da terra ao mar o dia,
azul-anil, prima coroa luzidia,
e nele brilha
tudo que não tem fim,
restando a mim esquecer
o lamento de ter tudo que sustento
e, mesmo assim,
não temer reconhecer –
– no momento de um brado
ao mais desesperado
confim do caos –
– os muitos tons
(uns maus, outros bons),
que, do âmago eterno da paz,
despertam da ilusão de morrer
o pensamento daquele que primeiro amou.


Há o resto, que deva ser silêncio.
Afinal, tudo que nos aflige é fútil.

Murólogo

Por antecipação, projeto
O grande muro de concreto
Que pretendo erguer um dia
E que vare pelo teto

E que chegue até o espaço
E que vá além dos dias
Leve à noite o meu abraço
Encha luas já vazias

E nos faça o provimento
De detonar as fantasias
E trazer o firmamento
Que só lá em cima é desperto...

Que os sóis não cheguem perto
Pra mostrar o que fazias
Que as nuvens voem certo
Pra cantar o que dizias

Magias?...

Pois eu não dou tiro no escuro
Só quero construir meu muro.

Falantropo

E eu estou passando mal, sem querer
Tudo por causa desse verso inerte
Que eu comecei a pensar, sem escrever

Pensei muitos versos
Sonhei sonhos vários
Pus todos em mim imersos
Sei ver quem se emerge
Sei sim, começou assim:

Um poema numa tarde
me invade o pensamento perdido
sobrenaturalmente submisso
a mais nada a não ser
o caminho a caminhar:

(Eu pensei que)

Eu não falo com as multidões
Eu não falo com a elite
Eu não falo com os meus botões
Falo só pra tudo que não existe
Falo pra todo pensamento penso, falo

Eu só queria mudar tudo que eu penso que ninguém pensa.
E isso é tudo que eu queria falar.
Ponto final, tchau.

Alvoradão

O Sol nasce  (!)
no dia que retorna
pr'uma vida que o enlace,
toma-a morna,
a inspira:
vem alenta, vem divina,
venta o apito que ela pira de menina
p'ra manar, p'ra munir e p'ra clamar:
Glória, deuses do Porvir!;
Vinde, deuses do Luar!...

Dá Aurora
O Cabelo centelhante
cruza a Flora
Nasce o mais gigante Sol
Voa Cobra
Cobre do Horizonte
toda curva animosa...

Quem poderá livrar nossa doce mãe da Luz
do sem-fim poder celeste?
Poder que faz ver, traduz,
mas, aos poucos, a conduz
a ter que correr o triste triz
de percorrer azuis anis,
sem poder ter quem empeste,
sem Poder, sem Leste,
socorrendo a quem deteste
firmemente o firmamento...

(Vai) Deslizando dedos dementes
para o dentro mais que dentro
do espaço de agora declarado:
DESCONHECIDO.



Cobre e Obre Couro e Agouro,
De Chofre em Chofre: Da Cera, o Soro;
Do Cheiro, o Ocre;  Da Erva, o Ouro;
Do Beijo, o Bode;  Da Fera, o Fogo;
Da Saga, o Sangue;  Da Terra, o Touro;
De Adão, o Adobe;  Da Eva, o Ovo;

No dia de amantes, No marco mercúrico,
A dama diante Do plebeu plúmbico... (Oh!)
Homem e Humo,  Fome e Fumo,
Sede e Sumo, Soma e Saída,
Curai, Mirra, Dando a Vida!
Jura e Mira O Dom da Vida!...



Nasce o pálido primevo oculto...
(Ah!...) Brilha em tudo...
Faz de todos novas vidas...
Mas agora, que é vulto,
mão carece mais que Vida:

Pelo oposto do seu signo, ele segue o caminho
que escolheu seguir sozinho.

Eu o declaro vivo...
Contudo, ainda digo: (Uh...)
(És) DESCONHECIDO.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

SANDICISÃO

Quantas páginas mal escritas
serão ainda necessárias
para que as ilusões várias
do meu falso ego artista
sejam enfim por vós vistas?

Elucidando meu eu ensandecido
saberíeis por que navego
mares tão desconhecidos?
Quem mudará o que prego,
enegrecendo o claro e branqueando a treva?

Indo aonde a velha moral leva,
fugirei daquilo que hoje encaro!
Não me mudarei, por mais raro
que pareça aos que têm lei!
Todos hão de ouvir os meus pesares!

E não, não mais cederei
aos apelos “votos a mim cedei,
irmãos!,
queridos familiares!”.

Torturante torpor eclesiástico!,
se vísseis comigo o fiasco
de dedos neuronais ditando regras!,
saberíeis o que sei,
em minha viagem pelos ares...

em naves cavalares,
sem ter rédeas!...
De tanto ver...
eu já nem mais sinto asco.

Sinto que vejo porque me execras!
Sinto o desejo de sempre ver!
Saber, p'ra nunca esquecer,
que a má ama estar na boa...
e versalha numa cama à toa...

E quantas noites mal dormidas
terão ainda o que as valha?...

ASSim ASSINe EMbaixo

Mas isso tudo é tão recente                          
    Eu me sinto sufocado
Mas isso não é diferente
    Eu me sinto um frustrado
Mas isso não foi de repente
    Eu me sinto tão culpado
Se isso não for persistente
    Eu pressinto algo errado
             (Assim) Assine embaixo

Eu me vejo grandemente
    Eu me sinto tão exausto
Eu projeto a semente
    Eu me sinto meio falso
Eu me seto transparente
    Eu me sinto só no claustro
Compareço renitente
    Recomeço sem percalço
             (Assim) Assine embaixo

Meu amor se fez valente
    Inicio um compasso
Faço força, faço ventre
    Fumo feno no regaço
Eu me minto novamente
    Eu me sinto derrotado
Eu padeço trás-pra-frente
    Eu prefiro o meu lado
             (Assim) Assine embaixo

Eu revejo toda a gente
    Eu me finjo ocupado
Eu concebo a glosa quente
    Eu restrinjo-me ao raro
Eu sou quase evidente
    Eu vou indo e vivificado
No vapor da vida ardente
    Dou um silvo a cada passo
            (Assim) Assine embaixo

Eu já sinto a dor de dente
    Eu lamento a dor do parto
Eu conspiro com o vidente
    Eu sustento cada fato
Eu retiro o meu pente
    Do cabelo embaraçado
Sendo solto, sendo rente
    Eu semeio o soslaio
            (Assim) Assine embaixo

Mas isso tudo é tão decente
    Eu me sinto destoado
Mas (a) isso não há quem atente
    Eu me sinto amornado
Mas isso não foi entrementes
    Eu me sinto tão paspalho
Se isso não for resistente
    Eu ressinto o ato falho
             (Assim) Assine embaixo


Águas

Águas ávidas a amainar a altivez assaz antropocida
Antes ambíguas, aguavam ainda a alta avidez adormecida
Agora antigas, ascendem assíduas aos alpendres acima
Ativo almíscar atômico anima átimos até as aminas


E bem brusco abria, bradava, bramia
Cetro servil, seu ser se concebia
Do dedo ao dardo doido, o dano doía
Espancava espantalhos, entre eras esquecidas

Faz futrica, fofoca até o fim da febre
Geme o joio - Já junta gente, jatos e jazidas
Lá longe, onde ele lia - Um livro livrando lugarejos leves
Maledizia muito mito - Matava muita mentira...
Momentânea, a mente mexe...


No portal que se abria se via
Tão somente sentimentos breves
Será mesmo o sol que ardia no dia?
Será mesmo só mais um sonho inerte?

(Mas) No umbral que se partia se ia
Pelo menos tão somenos verves
Será esse o sol que ainda ardia?
Será só mais um sonho que se atreve?


Nunca negado, não, nem nomeado, nada no navio não-nato
Obrigado outrora a ouvir o ovário, osculava o olho, ontológico olfato
Parido pirado, pruridos pulsados, pedidos perdidos, psicótico pacto
Por quê, quando, quem quis querer qual quesito?
Em qualquer quarto, um quiproquó esquisito.

Silvícola ias, te salvar sozinha!
Tu titubeavas, tu tinhas tantas travas...
Um último uivo, ao ungido urdia:
Vais vazar, avisa, vê... És vazia...


No portal que se abria se via
Pelo menos mais um sonho santo
Nunca houvera algo de tal espanto
Que já fosse nada novo no dia...

(E) No umbral que se partia se ia
Tão somente mentes sempre inertes
Será o mesmo sol que um dia ardia?
Será mesmo só mais um que se verte?


Rogo à Rainha enfim redimida: remenda tuas rédeas corroídas:
O Ídolo, a Ilha, o Abismo, a Alvíssara, o Hálito, o Aquário, a Vinda e a Ida

Ah! Vidas... Águas...
Algo... Algas...

domingo, 4 de maio de 2008

Terra (Tom)

Ó terra, mãe amada!
Tu que tudo em ti encerras!
Em serras, tua mão toada
Amontoa o canto do néctar...

Que não é que tardava inerte,
Inerente ao tanto que reza.
Resolvente, o teu canto verte
Verde pranto na tez impressa....

Teu encanto está em ver depressa!,
Pressupondo cada tom da festa
Que, infestada de fendas, começa...
Com essência, a defende e a testa!

Conterrâneo do sem fim, vá nessa!
Nosso som vai bem sim, à beça!
Abençoa, serafim, e berra:
Tenro canto será minha terra!...

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Saudades do Sótão

O jão 'tá lá embaixo raspando o pó do tacho
Eu tô aqui no telhado pensando no trabalho
Um pé de cana, no baralho não me engana
Todo mundo é bacana, mas só ele 'tá ligado

Cuidado, irmão
Põe os pés no chão
E fica sempre esperto, e deixa um olho bem aberto, então,
Perto, longe, se esconde em seus papéis
Se quer o doce de onze, mas hoje só tem o de dez


Adoece e depois sara
E depois, se te apetece, esfrega mais um na cara
Mais um trago na passagem pra outra prece
Só estresse nas paradas que entorpecem as estradas

Cuidado, você
Se vem pra perder
Se o trem ou a bala para é hora de descer, em vão,
(Vai) Viajando enquanto passa a estação
Se o livro é de quem lê, um ruído pode ter razão


Essa vida já tá torta, só o fim e nada importa
Volta a porca com os filhos, derrapando nos ladrilhos
Lidas leis, antepôs cada rês a dois leões
Numa mão, a citação; noutras três, corações

Prest'tenção,
N' é bem assim não,
Não é nada do que foi nem do que pareceu depois, e então,
Segue rente, mede frente com os ladrões,
E surpreende o chefe, chutando os seus dois bulhões!

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Versai!

ESTE VERSO
DO ONDE ETERNO SAI.

ESTE VERSO
NÃO TEM ONDE: NÃO TEM CAIS.

DE QUALQUER LUGAR
DE ONDE ELE VENHA,

DE OUTRO LUGAR
AONDE ELE VÁ OU VAI,

DO MESMO LUGAR
EM QUE SE MANTENHA:

AINDA É SEM ONDE
E SEM LAR:
SÓ AIS.

ESTE VERSO SÓ DOR HÁ
DE DECLAMAR:
NADA MAIS.
Por: Márcio S.R.S.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Guaranás Lusitanas

Guaráñás Lusitáñás(2006)

(pt 
(Ide) Às almas, ó varões assim alados!
que da ocidental praia lusitana
por mares nunca dantes navegados
navegaram até onde a vista engana...

E com verdes seres pendurados?
E, nos ombros, sebes de macaña?
Que ritos sombrios lhes marcavam
as peles beges na downtown?

Seriam eles mártires do mal?,
ou celeiros da mancha estranha
que borrava de medo o tal
guerreiro verme da entranha

– aflito cerne vital –?;
se só comiam branca-banha
e com garfos d’oiro espetavam
all the harvest they just sown?

Se amavam tanto tal façanha,
que descobriam endereço anormal,
não seria assim cá tão canha
cada índia de carnaval

caducar na carne cana
com moídas de mescal
e pisar cacau com o peão
cujo curral é cal na mão?

Que sonho tínhamos, Portucália!
Seque, porto – cale, ira
cuja alma de mingau já talha
em meio ao sal que a traíra!


E se amavam no quintal
e se mordiam de alegria,
mas soltavam bosta fria
pela boca, e o escambau!

E amizades tão sozinhas
não podiam mais ser vistas
pelos bares, pelas vinhas,
revelando o social!

Só me resta assim ser tida
como tendo um torpe tchau
Comovendo uma caída
que me torne animal!

Que me seja enfim total!


Sou eu que invisto a curvatura
que esquenta a tinta do timão
até a reserva virginal de espuma
que sustenta o planeta irmão
dos arqueiros, santos homens
- dois, de cada três, ladrão!

E sou eu quem diz que tomem
mais um porto e mais um filho,
e que some com o milho
das goelas que me comem!
Então jaz na morte matar,
mas, se queda do vazio, não quer mais ser lar...

Morreremos por um fio!


Rare Bhra Rai Indo Sil!
Rail Fréia, mix me will!
Mane Moneta, pegada lunar!
Saravá! Yemanjá!

Yah, Saraswati Padimah...
Pelo Portal de Ishtar!,
suba, santo sepulcro anil,
ao encontro de sua irmã senil!


Ave Ártemis!
Diana no estio!
Ê Mana Mãe Hera Kaali!
Ó Filha da Luna Juno!...

Vê já quem aqui caiu...
Vá avisando seu Saturno
que não resta muito a prumo...
Só um braço e um navio!


E com que fúlgida fugida
nosso mátrio pai gentil
se esqueceu não ter saída
e se ateu ao seu abril?

fez-se súbita investida,
dia trinta e um de mil?,
novecentos marços cansam?
Vinte e seis bitas descansam?

Só na casa que caiu!


Lá é onde serei longe,
à larga terra que alguém viu,
“à la détante”, dita o monge,
só, na manha do sombrio,
na eterna manhã solta no horizonte,
ou na tenra senda de sempreontem!

Que dialeto extinto e sóbrio
poderia enfim ser vil
contra os mesmos vis colóquios
que já cercam sem redil,
sobrevendo às braçadas sobras
de quem tenta ver tais obras?!
t 2)


Arde em brasa nossa terra, nosso ardil...

Se não fosse um japão...
E se não fosse uma índia...
E se não antes um islão...
Ou, se não, uma china...

E se não fosse já uma mina...
Um charrão, um rapé...
Um seringal, uma rainha...
Uma coca, um café...

Quem seria esse Brasil?


Mais um grito de algum maluco celta?
Mais um índio bom chamado de vadio?
Outra louca gurudeva raresbelta?
Ou um resto de devoto que fugiu
do comando cansativo do cristão
e, pro cristo que criava, virou pão?

Seria ele um pastor de rês, mulato?
Ou uma velha mãe vivendo no baldio?
Um sorriso inoportuno imediato?
Adrenalina que não sai mais do cio?
Correndo soltos pelos matos,
serão eles e elas rios...

Veios cheios vaporados...
Leitos feitos barrotados...
Seis se sorvem – Mariar...
Vão Um ser o que durar...


Mas quantas braças nos separam desse mar?
Sempre ele, no zumbido de ser ar,
esse na força perene da água,
onde ainda se estende um lugar

onde a chama dos deuses é clara,
a vida nunca pôde ter maré,
nunca mais vagueei na vaga
e nunca mais molhei o pé...


E da praia santa de Pindorama se avista
uma lua titânica que nasce e brilha nas ondas atlânticas....


(aaaaos cauins de limões)

DIA e NOITE

I - Dia

Noite após noite se vê levantar
Tanta estrela mas só um luar
Quem é que traz a luz que nos leva?
Quem é que faz amor com a treva?
Brilha com gosto o dia deposto

Vendo na água do rio quem olha
O céu e a lama e nunca se molha
Leito de grama, lar reluzente
Voam respingos de luz de repente
Brilha no mundo o dia que imundo

Ano após ano espero chegar
O dia do dia enfim minguar
Mas toda noite ele sempre aparece
Dor de prazer que se nasce só cresce
Brilha sem medo o dia que é cedo

Com brisas umbras e brados lunares
Vem pela névoa o brilho do leste
Ninguém mais trilha seus próprios pesares
Por mais que uma estrela inda reste
Brilha cansado o dia passado

Morte após morte erguem-se olhos
Sempre a viver neles próprios seus ódios
Própolis podres, més da má mente
Nada embaixo, mata a semente
Brilha enfim o dia sem fim

Quando o dia estiver pra acabar
Quem lá no céu poderá me esperar?
Se as nuvens vissem que eu também chôvo
Conseguiria ver tudo de novo?
Brilha e espaça o dia que passa

Lua após lua as novas se enchem
Mentes se esquecem daquilo que sentem
Dores prazeres sangues e versos
Dentro do sol para sempre imersos
Brilha bem forte o dia da sorte

Em cada abrigo nesse momento
Alguém desperta e beija o chão
Depois se vira até o firmamento
Veios etéreos sedentos sãos
Brilha eterno o dia... que inferno!


II - Noite

PtA noite já chegou e o dia já se foi
A luz devia ter pensado em levar algo
Mas vai ver que ela deixou pra levar depois
Da lua se esquecer que o sol voa mais alto
Mas nenhum dos dois voará tão alto
Quanto os azuis que cegam o sol

E antes que o sol brilhasse no regaço
Dos cabelos da aurora, um dos passos da demora
Tropeçou bem no espaço entre o medo e o receio
De comer tudo na hora ou sair antes de cheio
Mais azuis voaram mais, mais alto
Brilhando por trás da cegueira do sol

E já que o farol já tinha apagado
Foi o olho alado quem me guiou
E tocou bem no que sou, um ego cego de luz
Vestindo seu capuz encharcado de pus
Mas azuis voando mal, mais baixo

Cegaram o céu qual sina de sol